1 de dezembro de 2021Inovação
A inovação é uma das competências discutidas na iCare e, numa live sobre esse tema, fiz a seguinte pergunta: “Qual comportamento devemos manter para acalentar a inovação na nossa rotina?” O debatedor da live e coordenador da área de inovação da Imed Group, Dr. André Nunes respondeu objetivamente: “Não ter medo de errar”. A live acabou e fui dormir com essa resposta na cabeça, uma parte de mim discutindo com toda minha trajetória de profissional na saúde, cenário que errar sempre foi meu maior temor. Acordei incomodada com a possibilidade de que esse meu medo me impeça de evoluir e melhorar. Compartilho com vocês alguns fatos que refleti sobre o tema. Primeiro fato: Achamos que inovação é para quem pode arriscar. Os profissionais de saúde têm medo de errar, pois as consequências do erro podem impactar na vida do paciente de forma irreversível. Estabelecemos processos que deem segurança ao nosso trabalho, usamos ferramentas para proteger o processo do erro como checklist, dupla checagem, readback, teachbach, 5Certos, validações dentre tantas outras. Temos tanto medo de errar quanto de assumir os erros e não raro, usamos protocolos como escudos simbólicos para disfarçar o assunto, deixando de enxergar o processo assistencial como dinâmico e desafiador. Sim, os processos que garantem a segurança da assistência são necessários. Portanto, não é esse tipo de risco que se discute em inovação. Segundo fato: Inovar requer algum nível de “desconforto”. Usamos muito o termo “conforto” na assistência, visando o acolhimento físico e emocional necessário aos nossos pacientes. Mas quando tratamos da carreira, o conforto pode significar “acomodação”. Crescer dói, já dizia a minha avó. Crescer profissionalmente exige um certo nível de descontentamento, uma dose daquele ímpeto juvenil de não se acomodar com o que está determinado e o desejo de fazer melhor. Quantos profissionais não “pararam no tempo” por que se julgam ótimos? Em pouco tempo, o raciocínio limitante de que já se atingiu o ápice profissional, trará prejuízos a longevidade de qualquer carreira do mercado. Terceiro fato: Fantasiamos que inovação é algo extraordinário e além da nossa capacidade. Inovar parece tão disruptivo que dificilmente enxergamos como uma habilidade presente em nossa vida. Sabe aquela vez que você improvisou um ingrediente que faltava na sua receita de bolo, e ele saiu melhor do que você imaginava? Ou quando, recentemente, vimos comovidos a cena das luvas com água morna “segurando” a mão de um paciente na UTI, para confortá-lo? Eram inovação. Ou pelo menos a semente dela. As pessoas tendem a ser naturalmentecriativas em solucionar imprevistos do seu dia a dia. E essas soluções podem significar umlampejo da inovação nas nossas vidas, que de comum, não tem nada. Viver é extraordinário.Inovar é consequência. Quarto e último fato: Inovar é atividade coletiva. Todas – eu disse todas – as memórias sobre inovação que tenho na minha carreira, se deram em equipe. Sabe aquela ideia maluca de trazer o cachorro do paciente para visitá-lo no leito de hospital? Ou aquele método de dimensionar as visitas do psicólogo nos pacientes internados? Ou ainda, usando o tablet, comunicar más notícias ao paciente internado com COVID19 no hospital de campanha? Todos esses exemplos e mais tantos outros, só aconteceram porque eu tinha lideranças e parceiros de trabalho que estavam abertos a ouvir, a acolher, a testar (dentro de regras de segurança) e a medir o impacto dessas ideias, melhorando-as na próxima vez. Estou convencida que teria desfechos de fracasso se optasse em “inovar” sem essas pessoas, pois cada uma delas contribuiu com sua crítica e considerações, tornando uma nova ideia em ação que agrega valor. Se você também já pensou que inovação não é para você, talvez esteja apenas precisando aprender como não ter medo de errar, com quem e onde errar e, acima de tudo, como transformar o erro em sustentabilidade.
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